sábado, 16 de maio de 2015

Poesia de Virgínia Teixeira


Poesia de Virgínia Teixeira

Dragão

Corre veloz como se o que a persegue fosse o próprio fogo do Inferno
Sente as pernas fraquejarem mas sabe que não pode descansar
Nada mares imensos como se mergulhasse no ventre materno
Sobe montanhas com as mãos feridas e os pés descalços sem respirar

Batalha monstros de cabeças mil que saem da terra sem aviso
Domina os dragões enviados para a incinerar, e escolhe o que a irá carregar
Afaga-o com o carinho de quem não sabe o que é ternura nem um sorriso
E quando a noite cobre o mundo esconde-se nas asas do dragão sem sonhar

A alvorada enche o mundo de cor e alegria, e o dragão cospe fogo para a aquecer
Mas Ela não conhece a amizade e olha-o com desconfiança, de espada na mão
Os olhares encontram-se, o dragão que não entende a espada e Ela que não sabe crer

Mas ele, o dragão centenário que Ela pensa que dominou, possui uma sabedoria singular
E deita-se aos pés da menina assustada, á mercê da espada que ela empunha sem razão
E Ela, deixando o calor invadir-lhe o peito, encontra finalmente nas suas asas onde sonhar…


Não te deixes ficar por medo de partir

Não te deixes ficar por medo de partir
Sente a minha mão na tua e acredita
Estou aqui, e não vou deixar que o mundo te volte a ferir
Rezo por ti e sei que a tua morte será bendita 

Roguei pela vinda dos céus de dois anjos de alma bondosa  
Roguei por eles com o meu canto de cotovia
Contei-lhes da dor que carrega esta Mulher corajosa
E confessei que ver-te descansar seria a minha maior alegria

Pedi-lhes que te dessem a mão quando a minha já não te poder alcançar
Que te levassem num terno abraço para o campo florido que te espera 
E te entregassem onde a amazona guerreira do Passado, ainda impera

Enquanto eu fico aqui, a ver-te partir, com o peito apertado a murmurar
“Adeus minha avó amada”, e uma prece nos lábios sussurrada:
“Rosas, túlipas e margaridas… Cuida de todas com a tua mão abençoada!”


Capitã

Capitã de um navio velho que teima em encalhar
Navio que persiste porque já há muito que não ancora
Navio que enfrenta de frente as ondas furiosas do mar
E depois da tempestade se deixa embalar em sonhos de outrora

O navio impõe-se no horizonte infindo dos mares caprichosos
Ao longe assemelha-se a um navio pirata pronto para uma batalha
Navio vestido de escudos protectores e canhões corajosos
Bandeira hasteada com o símbolo de uma intransponível muralha…

Capitã de um navio velho que arrasta no casco algas de mares já passados
E que parece ranger como um lamento angustiado de desencarnados…
Esse é o seu navio, o que vagueia pelos mares sem rumo nem sorte…

É esse o leme que governa sem conseguir esquecer de onde um dia partiu
Sonhando que, um dia, alguém tome o leme e aponte para o verdadeiro Norte,
Enquanto ela deixa desaguar no mar o rio que encerra no peito que a traiu…



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