Camões em Macau
pelo Padre MANUEL TEIXEIRA
Recolha e composição de António Cambeta de Macau / Tailândia
Reza a tradição que Camões esteve em Macau e que o seu retiro predilecto era a estância do Patane, para os lados de Sto. António, sítio na verdade aprazível e pitoresco, que foi baptizado com o nome do poeta, chamando-se-lhe, ainda que impropriamente, Gruta de Camões.
Esta tradição pluri - secular foi acatada e respeitada por todos os historiadores e biógrafos do poeta, havendo apenas divergências acidentais da parte de Teófilo Braga, Juromenha e Storck quanto à data da sua vinda e outras minúcias, ficando, porém, de pé o facto principal, a estada do poeta em Macau.
Mas nos primeiros anos do século positivo, em que vivemos, em 1907, houve quem pretendesse contestar este facto e relegar a tradição para os domínios da lenda.
1. Já antes, em 1899, o ilustre orientalista J. F. Marques Pereira, expusera bem fundadas dúvidas sobre a estada de Camões em Macau como Provedor dos defuntos e ausentes 2. Ora, há aqui duas questões que importa não confundir:
l.ª -Esteve Camões em Macau ?
2.ª-Foi Camões Provedor dos defuntos e ausentes em Macau ?
À primeira respondemos afirmativamente com a tradição.
À segunda respondemos negativamente com razões históricas.
Esteve Camões em Macau ?
Responde afirmativamente toda uma plêiade de brilhantes e profundos historiadores dos séculos passados; começou a negá-lo João Frick em 1907, o qual aventou a hipótese de o poeta ter ido morrer, «com a espada na mão, ao lado do seu rei nos campos de Alcácer-Quibir.»
pelo Padre MANUEL TEIXEIRA
Recolha e composição de António Cambeta de Macau / Tailândia
Reza a tradição que Camões esteve em Macau e que o seu retiro predilecto era a estância do Patane, para os lados de Sto. António, sítio na verdade aprazível e pitoresco, que foi baptizado com o nome do poeta, chamando-se-lhe, ainda que impropriamente, Gruta de Camões.
Esta tradição pluri - secular foi acatada e respeitada por todos os historiadores e biógrafos do poeta, havendo apenas divergências acidentais da parte de Teófilo Braga, Juromenha e Storck quanto à data da sua vinda e outras minúcias, ficando, porém, de pé o facto principal, a estada do poeta em Macau.
Mas nos primeiros anos do século positivo, em que vivemos, em 1907, houve quem pretendesse contestar este facto e relegar a tradição para os domínios da lenda.
1. Já antes, em 1899, o ilustre orientalista J. F. Marques Pereira, expusera bem fundadas dúvidas sobre a estada de Camões em Macau como Provedor dos defuntos e ausentes 2. Ora, há aqui duas questões que importa não confundir:
l.ª -Esteve Camões em Macau ?
2.ª-Foi Camões Provedor dos defuntos e ausentes em Macau ?
À primeira respondemos afirmativamente com a tradição.
À segunda respondemos negativamente com razões históricas.
Esteve Camões em Macau ?
Responde afirmativamente toda uma plêiade de brilhantes e profundos historiadores dos séculos passados; começou a negá-lo João Frick em 1907, o qual aventou a hipótese de o poeta ter ido morrer, «com a espada na mão, ao lado do seu rei nos campos de Alcácer-Quibir.»
Depois deste, apareceram alguns articulistas a copiar as suas objecções; o mais ilustre defensor da tese negativa foi o Dr. Luiz da Cunha Gonçalves que, no seu livro Camões não esteve em Macau
3 - ampliou a tese que João Frick, com o pseudónimo de Gonçalo da Gama, publicara no Portugal.
Nós somos pela tradição, e, não nos convence nenhum dos argumentos dos que a atacam. Assim, João Frick diz que Camões não esteve em Macau porque, à data, Macau não existia, não passando dum covil de piratas; Cunha Gonçalves diz que «entre 1556 a 1559, não havia chinesas cristãs, como não existia a cidade de Macau»
4. - Ora tudo isto é redondamente falso, pois que nessa época já existia a colónia portuguesa de Macau e já existiam chinesas e chineses cristãos. Para não nos repetirmos, remetemos o leitor para o nosso estudo sobre o Estabelecimento dos Portugueses em Macau, publicado no Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau, Dezembro de 1939, pp. 273-297, pelo qual se pode ver que, imediatamente depois da paz firmada em 1553 ou 1554 pelo Leonel de Sousa, com os chineses, os portugueses se estabeleceram em Macau, donde em 20 de Novembro de 1555 Mendes Pinto escreveu uma carta para Goa.
3 - ampliou a tese que João Frick, com o pseudónimo de Gonçalo da Gama, publicara no Portugal.
Nós somos pela tradição, e, não nos convence nenhum dos argumentos dos que a atacam. Assim, João Frick diz que Camões não esteve em Macau porque, à data, Macau não existia, não passando dum covil de piratas; Cunha Gonçalves diz que «entre 1556 a 1559, não havia chinesas cristãs, como não existia a cidade de Macau»
4. - Ora tudo isto é redondamente falso, pois que nessa época já existia a colónia portuguesa de Macau e já existiam chinesas e chineses cristãos. Para não nos repetirmos, remetemos o leitor para o nosso estudo sobre o Estabelecimento dos Portugueses em Macau, publicado no Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau, Dezembro de 1939, pp. 273-297, pelo qual se pode ver que, imediatamente depois da paz firmada em 1553 ou 1554 pelo Leonel de Sousa, com os chineses, os portugueses se estabeleceram em Macau, donde em 20 de Novembro de 1555 Mendes Pinto escreveu uma carta para Goa.
O sobrenatural escreve:
O poeta Luís de Camões vivia em Macau numa espécie de desterro, provocado por invejas e inimizades em Portugal. As intrigas obrigaram-no também a deixar aquela terra, tendo embarcado como prisioneiro na famosa Nau de Prata, nos finais de 1557.
Luís de Camões despediu-se da famosa gruta de Patane, em Macau, que tinha escutado o eco dos seus sonhos e do seu desespero, e apresentou-se ao capitão da Nau de Prata. Interrogado sobre o papel enrolado que levava na mão,
Camões respondeu que era toda a sua fortuna e que talvez fosse aquela a sua herança para todos os Portugueses. Tratava-se da epopeia Os Lusíadas que contava a história do seu povo e que, segundo a lenda, terá sido escrita naquela gruta.
Escritos com toda a alma e toda a saudade de português, injustamente privado da pátria, aqueles versos eram o maior de todos os seus tesouros e os únicos companheiros do seu infortúnio. Da amurada da nau, estava Camões a despedir-se da gruta, quando ouviu uma voz de mulher que o interrogava sobre a sua tristeza.
Era uma nativa de Patane, que o conhecia, e em quem ele nunca tinha reparado, apesar da sua extrema beleza. Tin-Nam-Men era o nome da nativa que, na sua língua, significava Porta da Terra do Sul - a Porta do Paraíso.
Tin-Nam-Men tinha observado Camões, durante muito tempo, sem nunca se atrever a falar-lhe até àquele dia. Perdidamente apaixonada por Camões, tinha-o seguido até ao barco.
Partindo com o poeta, conta a lenda que, na Nau de Prata, nasceu mais uma relação amorosa na vida já tão romanesca de Luís de Camões, até ao trágico dia em que uma tempestade irrompeu nos mares do Sul.
Como a Nau de Prata estava condenada a afundar-se, embarcaram as mulheres num batel e os homens salvaram-se a nado. Camões, de braço no ar, segurando Os Lusíadas, nadou até terra, mas o barco onde seguia a linda Tin-Nam-Men foi engolido pelas ondas.
Foi à bela Dinamene, como o poeta lhe chamou, que Camões terá dedicado os seus belos sonetos «Alma minha gentil, que te partiste...» e também «Ah! Minha Dinamene! Assim deixaste».
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