sábado, 24 de janeiro de 2015

O SONHO É AQUELE LUGAR QUE SEDUZ, COMO SE SE DEIXASSE APRISIONAR - Crónica de Gociante Patissa


O SONHO É AQUELE LUGAR QUE SEDUZ, COMO SE SE DEIXASSE APRISIONAR

Crónica de Gociante Patissa

Os homens gabam-se ter sonhos, quando são na verdade estes que carregam aqueles. Não posso dizer que tenha até aqui inventado a asserção. Temos os sonhos, são nossos, mas não mandamos neles, nem os mudamos. Ou mudamos? Parece-me mais certo ver os sonhos como a não aceitação da impotência, da circunstância vivida.

O sonho, enquanto meta, mais não é do que o tempo indeterminado entre o hoje e o amanhã promissor, algures na manivela do tempo. Certa pessoa, no contexto de trabalho, chegaria a escandalizar-se diante de uma resposta minha em 2006. Questionado sobre o que sonhava ser em termos profissionais, justamente no segundo ano de fracassada tentativa de entrar para a universidade, disse-lhe eu que não levávamos para a esfera do sonho a coisa, que o sonho não contava onde tudo escasseia.

A gente até já sabe com o que se pode, ou não, sonhar. Se limitadas são as almas, também o são por solidariedade sonhos. Mas, incorrigíveis, sonhamos sempre, talvez porque o onírico tem a chatice de ser multidirecional. Que remédio!

E eu sonhava, mais ou menos a partir de 1996, com a possibilidade de ver um dia um livro numa vitrina de livraria... com o meu nome na capa.
Seria o chamado sonho de Gutenberg? Ora, tal sonho carregou a minha imaginação, a auto - superação e as energias até 2008. E sem que eu pudesse controlar, o sonho metamorfoseou-se, porque ele, o sonho, lida mal com a ideia de chegar ao destino, o sonho é afinal um caminhante de só começar.

Agora o sonho passou a ter na mira a primeira oportunidade de ser entrevistado para falar (não sobre, mas) de um livro meu, discutir, se tal se aplica, o interior.

Até agora só tenho recebido da imprensa oportunidades para anunciar e informar - o que desde já agradeço, para não ser ingrato, posto que, de tão recorrente, pode ser um indicador da fatia de atenção que me é merecida enquanto criador do campo da escrita.

Foi por isso que recebi com satisfação, no começo de uma entrevista a propósito da novela «Não Tem Pernas o Tempo», uma pergunta muito pertinente, de um entrevistador que tinha um exemplar com considerável antecedência. "Vou-te apresentar como escritor?" Essa pergunta é ainda menos complexa do que a outra, para a qual me engasgo sempre: "Qual é o título do livro?"

Esta sim, é uma grande questão! Desfez-se pois o segredo. O sonho mesmo é chegar a ser lido e inspirar guião, mas sei também deste carácter fugidio de um sonho, pelo que me darei por avisado, se disso não passar.
 
Qual é mesmo o título do livro?

Gociante Patissa, Benguela 14.12.14


 



Sem comentários:

Enviar um comentário