sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Dois Poemas - Por Denise Severgnini


Dois Poemas - Por  Denise Severgnini

A Poetisa Fenecida

Expirado o momento d’inspiração
 Carnífice martírio de letras soltas
 Mal diagramadas numa expiação
 Em plúmbeo veludo, já envoltas
 Traçam ritos da vate tão exaurida
 Harpejam fúnebres árias... Riem
 Do seu não ser expresso em vida
 Letras malfadadas sobrevivem...

Poetisa serpenteia na soturnidade
 Diáfanas vestes encobrem a agonia
 Sem sua lira, não há prosperidade
 Nem como poder falar de idolatria
 Epopéias do desencanto desfraldam
 Bandeiras que sacolejam escuridão
 Perecidas almas a ela circunavegam
 Impingindo um tanto de aliviação...

Não há conforto na palavra oblíqua
 Um ego sorumbático nada produz
 Nem mesmo um cura a ele se adéqua
 Pois ela não se ajoelha ante uma cruz
 Sucumbiram quimeras, versos alados
 Desalento unânime na incerta essência
 Tranquiliza na lápide, ossos cansados
 Como epitáfio: Poetisa por excelência!

Sentindo a morte de perto

Há um beijo que não dei, mas já é tarde
 O destinatário partiu faz muito tempo...
 Há aquela flor que não reguei... Sem alarde,
 Dou-lhe a líquida fonte de vida... Contratempo
 Há em mim, aquela dor que não cultivei...
 Há no firmamento, A Força Maior,
 
Que agnóstica, inconsiderada, quase eu repudiei...
 Visita-me espectro das sombras... De amor,
 Busco roupagem... A disfarçar as mazelas que experimento
 De passagem marcada à estação terminal... Repenso!
 Escrevo ,eu trabalho, leio estudo,... Pra quê?...Nem minto!
 Há ainda lavrado em meu peito aquele verso denso...

 Não exaurido, nem sentenciado... Que sem querer eu sinto!
 Tenho tempo... Dou-me o tempo... Apesar do desalento
 Andejo de mãos dadas com o Criador... Sobrevivendo!
 Meu jazigo aguarda-me, mas não agora!Entendendo,
 Que há a expectativa do mal, mas a finalização do bem
 Vou indo... Escrevendo... Chorando... Com ELE... Até o além!




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