terça-feira, 7 de junho de 2011

Censura no Cinema no tempo de Salazar está por estudar

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Censura no Cinema no tempo de Salazar está por estudar

O livro “O cinema sob o olhar de Salazar”, que vai já na sua terceira edição mostra como o ditador “nunca perdeu de vista o cinema, como nunca perdeu de vista qualquer outro tipo de atividade”.
Em declarações à Lusa, o investigador – que se identifica como “um historiador do Estado Novo que se interessou pelo fenómeno cinematográfico” – refere que, no Estado autoritário criado por Salazar, “tudo estava sob a sua própria vigilância e naturalmente também o cinema lhe interessava”.
Salazar, diz o historiador, “ia ao cinema, mas não era propriamente aquilo a que se pode chamar um cinéfilo”.
Durante a ditadura, “alguns filmes foram proibidos e muitos filmes, ou parte deles, foram censurados”, mas este tema “está muito por estudar, conhece-se pouco”, refere o professor, frisando, porém, que “o cinema é uma coisa muito cara” para que pudesse ter sido um instrumento ao serviço da oposição.
O facto é que, numa altura em que a televisão dava apenas os primeiros passos, “a única imagem que havia era efectivamente o cinema” e mesmo as notícias eram dadas pelo grande ecrã, nomeadamente através do Jornal Português (criado em 1938).

Porém, o cinema que se fez na época não foi todo de propaganda, ao contrário. Embora o cinema não pudesse “ultrapassar determinados limites ideológicos”, a ditadura salazarista – à semelhança dos regimes nazi, na Alemanha, e fascista, em Itália – estava mais interessada em apresentar um cinema para entreter o povo, “para divertir ou para chorar”, descreve o professor catedrático aposentado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Enquanto “o documentário era um documentário fundamentalmente de propaganda”, no cinema de ficção “só houve dois” filmes “com um sentido direto de propaganda”: “A Revolução de Maio” (1937) e “O Feitiço do Império” (1940). Mas também das “muitas comédias” produzidas na altura algumas “tinham um sentido ideológico”, como “O Pátio das Cantigas”, exemplifica.
O cinema foi, portanto, um “instrumento indireto” ao serviço da ideologia, considera Luís Reis Torgal. Mesmo na altura do Cinema Novo, “que começa com Paulo Rocha”, nos anos 70, e revela já “uma certa angústia”, o Estado Novo procurou integrá-lo “o melhor possível, porque era apreciado lá fora, sobretudo em França”.
E “mesmo o neorrealismo não se pode dizer que é um cinema que se opõe à lógica do regime”, embora seja “muito mais analítico”, acrescenta o historiador, recordando “Aniki Bóbó” (1942), de Manoel de Oliveira.
Surpreendente é, porém, a tolerância do Estado Novo para com certo cinema estrangeiro, nomeadamente o neorrealismo italiano, que era “um cinema de combate social” e mesmo assim “entrou nas salas de espetáculo portuguesas”, recorda.
Na opinião de Luís Reis Torgal, isso “prova que o Estado Novo teve uma forma inteligente de encarar o fenómeno distributivo do cinema”, tema que, indicou o investigador, já está a ser analisado em tese de doutoramento.
(ES)

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